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Matuto de Nascença e de Morrença



Se eu pudesse escolher uma expressão que me definisse, diria que sou matuto, um matuto de nascença e de morrença. Nasci e vivi os meus primeiros anos de vida literalmente no pé da serra, todos os dias saía ao raiar do sol pela estrada empoeirada até o curral do seu Tota, onde enchia a minha vasilha (bem pequenina, proporcional ao meu tamanho) de leite e levava até os meus irmãos menores.

A minha adolescência passei em cidade grande, para os nossos padrões matutos, que na verdade era apenas uma extensão daquela vida da roça. Como cresci nesse mundo, sou um matuto de nascença, só que hoje, vivo nessa metrópole desejando ardentemente terminar todas as tarefas a mim propostas e lá voltar.

Quando eu chegar lá, direi que não me acostumei com os barulhos daqueles carros e motos, com a solidão desses apartamentos, com esses poucos e raros laços de amizade, com a pressa de um povo que corre para lugar nenhum, com a violência que corrói a esperança.

Sentarei novamente na calçada até tarde, rirei das crianças brincando no meio da rua ou correndo da dona Chica que deseja rasgar a bola daqueles pivetes, falaremos de tudo e também de todos. E por volta da meia noite recolheremos nossas cadeiras de balanço, faremos nossas orações, apagaremos as luzes e descansaremos.

Ao amanhecer, não precisarei ter tanta pressa, a qualquer lugar poderei chegar numa caminhada. E assim concluir os dias de minha vida, sendo também um matuto de morrença.

Comentários

Rose Lira disse…
Meu migo, vc falou pouco e falou muito, falou verdade, senti a intensidade de sua urgência e de sua saudade...que bom que vc está com saudades do que já viveu e pra onde pode voltar...eu sinto saudades do que nunca tive e de onde não sei se vou puder chegar!..Bjos.
Barros disse…
Muito bom meu amigo... Vc me inspira sempre!

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