Hibisco Roxo narra a história de Kambili e sua família. Seu pai, um cristão católico conservador, oscila entre a generosidade e a violência. O enredo se passa na Nigéria, que sucumbe a um golpe militar logo após uma sangrenta guerra civil. A Igreja Católica é forte no estado, destruindo tradições locais e demonizando tudo o que não parece europeu e branco. A colonização branca surge como uma das principais responsáveis pelo quadro de injustiça social presente no país. A memória do povo é preservada por Papa-Nnukwu, avô de Kambili, de forma sensível e tão marcante que é impossível não se encantar com sua figura.
A religiosidade pode provocar estragos irreversíveis na vida das pessoas, destruindo sonhos, culturas e famílias. Sabemos que o cristianismo, em muitos contextos, tem sido esse instrumento de destruição. Atualmente, muitos dos problemas que enfrentamos em nossa sociedade têm origem em uma compreensão equivocada dos textos evangélicos e da forma como deveria ser a prática daqueles que se identificam como cristãos. A obra de Adichie nos ajuda a compreender que o exercício da fé pode ser alegre, amável e acolhedor, mas também pode ser violento, manipulador e amedrontador.
Ao ler essa obra, certamente você se identificará com alguns aspectos da sua prática de fé. Será possível reconhecer que muitas de nossas tradições locais foram demonizadas, criando uma atmosfera de medo e brutalidade. Hibisco Roxo é muito mais do que uma ficção: é o retrato doloroso da fé como instrumento de colonização e opressão.
Comentários