Dado de uma pesquisa realizada pelo jornal Diário do Nordeste vem
informando que 63% das vítimas de homicídio em Fortaleza são jovens,
todos entre 15 e 29 anos. Conforme a pesquisa, o perfil da maioria das
vítimas de homicídios é de jovens, solteiros, em idade produtiva, negros
e com baixa renda e escolaridade. O levantamento apresentado mapeou
todos os bairros de Fortaleza, entre os anos de 2007 e 2009, e mostrou
que mais de 2.300 homicídios, cerca de 74.800 roubos, além de 16.900
casos de lesão corporal ocorreram em apenas três anos na Capital
cearense.
Os números crescem e traduzem a cruel realidade do avanço da
criminalidade na quinta maior capital brasileira e sua Região
Metropolitana. Essa violência também está sendo sentida nas escolas. Em
junho desse ano, na capital cearense, no bairro Curió, uma adolescente
assassinou outra em plena sala de aula, mostrando uma triste realidade,
constatada em pesquisas, que os atos de violência fazem parte da rotina
de muitas escolas.
O Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor,
com apoio da PLAN – Organização Não-Governamental em Defesa dos Direitos
das Crianças – realizou uma pesquisa sobre a violência nas escolas. Os
dados são estarrecedores: 70% dos alunos pesquisados de escolas públicas
e privadas já presenciaram algum ato de violência contra outro colega
na escola. 9% afirmaram ter visto colegas serem maltratados várias vezes
por semana e outros 10% afirmaram que vêem esse tipo de cena todos os
dias. Ou seja, quase 20% presenciam atos de violência dentro da escola
com uma freqüência muito alta, o que é um indício que o bullying está
presente significativamente nas escolas pesquisadas.
Pesquisas realizadas pelo UNESCO demonstraram quais são os tipos de
violência vivenciados nas escolas: 1. Violência contra pessoas: ameaça,
brigas, violência sexual (assédio, olhares, gestos, intimidação,
comentários obscenos, exibições, insinuações, desenhos nos banheiros).
2. Violência contra a propriedade: roubos e furtos. 3. Violência contra o
Patrimônio: dilapidação do espaço e do equipamento escolar. Cultivar
uma cultura de paz entre os jovens das escolas é urgente. Os
especialistas lembram que cada um de nós é responsável por transformar o
mundo que se encontra caótico e que o processo começa em nossa mente,
no nosso interior.
Nossas grandes perguntas diante desse quadro caótico de violência são: a
paz é possível em nossas escolas? E que caminhos deveremos seguir para
enfim vivenciar um ambiente de aprendizado baseado no respeito mútuo?
Comecei a elaborar alguns esboços de pensamento através da vivência em
dos projetos da Missão Betsaida, chamado Rota da Paz. A abordagem aos
jovens mediante aplicações práticas de metodologias
psicossocio-espirituais grupais é importante, pois, é nesse espaço que
assementes de violência interior e de muitos sentimentos como raiva,
tristeza, rejeição, etc., podem ser revertidos através da formação do
grupo de ajuda-mútua. A partilha dos saberes e sofrimentos, promove a
resiliência e fomenta a capacidade de melhor administrar os períodos de
crise e dificuldades, na medida em que intensifica a autonomia, reforça a
auto-estima e fortalece os vínculos interpessoais, resultando no
empoderamento dos beneficiados(as) na direção de conquistar seu espaço
na sociedade e contribuir com a mesma no exercício da pacificação. Como
facilitador dessa metodologia pude verificar a transformação de vida
desses adolescentes e jovens, que agora posso nomeá-los como
embaixadores da paz.
O que isso tem a ver com a escola? Para responder essa pergunta
gostaria de citar outra experiência que vivenciei em Marcolândia, Piauí.
Nessa cidade está sendo realizada uma formação, na Metodologia Rota da
Paz, para as professoras de escolas públicas da cidade. A professora
Marinete relatou o seguinte[1]:
“Trabalho dois turnos em uma escola, dividindo-se nas tarefas
domésticas e escolares. Quando cheguei para aula no turno da tarde, o
diretor pediu para falar comigo. Ele informou que dois alunos tinham
brigado e que não mais toleraria aquela situação, e que eu precisava
“dar jeito” nesses meninos. Quando entrei na sala, percebi que o clima
estava tenso. Aquele que tinha sido vítima encolhido em um canto da
sala, o agressor com olhar de poucos amigos. Então me lembrei da
metodologia Rota da Paz. Pensei que a paz começa dentro de cada um de
nós e nós sempre podemos fazer algo por ela. Eu não poderia alimentar
aquela situação de discórdia. Vesti-me como um facilitador rota da paz,
sorri para a turma e perguntei quem estava feliz. Eles olharam para mim e
começaram a rir, o momento tenso foi embora. Naquela tarde falamos um
pouco sobre a importância da alegria e o conflito foi solucionado com
abraços gerais”.
É difícil dizer que encontramos a fórmula para a paz nas escolas. Esse é
um caminho que demanda de nós uma longa caminhada. Mas, acreditamos que
baseados na compreensão do outro, no respeito às diferenças, no cultivo
de ações pacifistas conseguiremos vencer esse atual ciclo de violência.
Os casos que citei acima demonstraram isso: os jovens participantes de
grupos Rota da Paz passaram a conduzir suas ações com maior reflexão e
valorização do outro. A professora Marinete lembrou que a paz precisava
começar nela e que ela não poderia alimentar mais a violência que há
entre os seus alunos.
Isso mostra-nos que para se romper o ciclo das violências, “as pequenas
violências” diárias precisam ser diminuídas até acabarem. O aluno
precisa aprender a viver de forma respeitosa com colegas e professores.
Os professores necessitam exercitar a capacidade de pensamento crítico
de seus alunos, respeitando suas opiniões. Dessa maneira, juntos poderão
trabalhar para que as melhorias tão necessárias as suas escolas sejam
realizadas. Enfim, todos precisam entender que são necessários na
construção de uma cultura de paz em nossas escolas, e assim escrever uma
nova história.
Também em: www.missaobetsaida.org.br
[1] Nome Fictício
Régis Pereira - Coordenador do Projeto Rota da Paz - Missão Betsaida
Comentários